sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Joana Francesa

Não esperava que não voltasse com aquelas embarcações. Seria como tantas outras que ali abarcaram. Luxuosas embarcações. Mulheres belíssimas. Não; aqui, sendo daqui mesmo, não haveria tão belas mulheres. Cabelos ruivos por aqui, tendo aqui nascido, não seriam. E a pele tão branca que dava um nó na vista (e na garganta). Dava dó de tocar. Ah, mas tocava sim. Tocava porque depois, sabia, no outro dia, lá se ia a embarcação. Ah, Joana, você não devia ter ficado. Ficou no outro dia e foi ficando. De teimosa que é. Eu já disse que às vezes o mar não tá tão generoso. A gente joga a rede e nada. Volta a rede do jeito que foi jogada. Aí, não tem café nem almoço. É brioche que você fala? Também não tem. Onde é que eu vou te comprar uma roupa dessas? Uma medalha com corrente sem ser de concha e semente? Não tem conversa. E a que tem, ela não escuta. Nem sei se quando eu falo ela entende. Às vezes fica me olhando do nada, pros meus olhos, pros meus braços, e vem se chegando toda atrapalhada, e eu morto de cansaço. Que cansaço que nada! Quando ela vem assim eu nem penso. Às vezes eu chego em casa e ela toda enxarcada. Tava tomando banho de mar. Tira essa roupa, Joana! Toda molhada. Faz medo uma pneumonia. Imagina ela gripada. Tão frágil. Tão fragilzinha. E ela tira. A roupa de cima e a outra roupa. E a outra e a outra. Dessas roupas complicadas. Eu não me aguento. Ah, Joaninha, você não devia ter ficado. Agora tá de casa pra dentro. Tá até no meu barco. Fui eu que pintei, assim, de lado, "Joana Francesa". Pr'eu ter coragem de ir, motivo de voltar. Uma proeza que fiz pra ela morrer de chorar. Eu não entendi, mas disse que tava feliz. E agora deu pra me ensinar uns nomes estranhos. Mademoiselle, bon jour, fenetre. Eu me enrolo todo. Ela fica agoniada. Dia desses quase morre do coração (e me mata). Onde já se viu sair pra pescar com o sol na cara? Tem que ser de madrugada. Ela acordou e eu não tava. Saiu correndo na beira da praia. Rasgou o vestido, assanhou os cabelos. Quando eu cheguei tava sentada. Cada olho vermelho... Aí, disse tudo quanto era nome esquisito. Mas não entendo nada mesmo. Ficou por aquilo. Quando entrou me deu um beijo. Ela tem uma mania de querer dançar no meio da sala (foi assim também nesse dia). Não tenho nem pra onde corrrer. A casa é dum tamanho de nada. Ah, Joana, Joaninha, nem lembro como eu vivia antes de você. E de uns tempos pra cá, não é que aprendeu as horas de me levantar? Perdi o sossego. "Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda,acorda..."

Lua