segunda-feira, 17 de outubro de 2011

é tanto carinho,amor e cuidado
que eu não sei pra que lado
saltar

é tanto cuidado, carinho e amor
que eu não sei de onde tirar
nem pôr

lua

sábado, 15 de outubro de 2011

Anda já
corre o ponteiro
manda me esperar
que eu vou

vim, tão longe
de viver
o sol tava pra nascer
pra deixar de desamor
deixei a flor
em cima do armário de esquecer

lua

sábado, 1 de outubro de 2011

se você vier
pro que der
e vier
seja lá
o que for
acontecer
não me venha
por favor
sem você
e esse tanto
de amor.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

mudança comportamental
para quem tem infinito sentimento:
O Infinito é um comportamento.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

se não fosse aquilo
o que foi não era
abismo, absurdo, abstrato
abstraia o mal entendido
eu repito "quem dera"
prós escassos
contras demais
demasiados
contrapassos
contratempos e pormenores

quem foi que escreveu errado
por linhas ainda piores?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

entre nós
há um universo distante,
uma mesa, uma estante,
uma família, um rio,
uns poucos anos a fio,
um assunto interessante

há, entre nós,
entrelaços em alerta,
portas entreabertas,
eu pisando entre ovos,
dentre novos rumos novos,
entre placas sem setas

se acaso nós voarmos
por favor,
não fui eu que dei asas
aos longos braços seus

entre, mas pelo Amor,
não sinta-se em casa.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

uma canção para Sol

Sol menina bonita
de lua e só
Fica aflita
se eu me chego só
Parece que grita
vai lá e volta
em sol

lua

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Rosa (II)

Mas também não adianta falar só das boas coisas da Rosa, não é verdade? Vocês acabarão pensando que é mentira!

Uma vez fiquei, realmente, um pouco chateado. Ela saiu pra comprar cigarros pra uma amiga - porque a Rosa mesmo não fuma, não - e passou semanas sem dar notícia. Aí foi difícil. Me imagine semanas sem a Rosa. Conseguiu? Pois é, imaginei que não. Tanta coisa me passou pela cabeça, meu Deus. Foram os piores dias de que já se teve registro. Mas não quero mais falar sobre isso, até mesmo porque depois ela chegou em casa, toda sorridente. Trouxe um cinzeiro que tinha escrito "passei em São Luís do Maranhão e me lembrei de você!". Coisa mais bonita. Eu estava chateado, mas diante de tão bela declaração, eu me rendi. O engraçado é que eu também não fumo, olha só! Ai, a Rosa e suas boas piadas. Aliás, até hoje não sei o que foi fazer no norte.
- Ô Rosa! Rosa? Naquele dia que você saiu pra comprar cigarro...

A Rosa é tão carinhosa. De vez em quando, quando chego em casa cansado, ela me faz uma massagem. Que massagem! Massagem de outro país, ela diz. Não sei como aprendeu se é de outro país, não é verdade? A Rosa e seus mistérios!

Dia desses a avistei de longe na feira, fazendo a feira. E conversava com o quitandeiro sobre a feira que fazia. Como era mesmo o nome dele? (...) Seu Alberto! Grande Alberto. "Seu Alberto, me veja uns bons tomates". Devia ser algo assim. "Rosa! Ô Rosa!", eu gritei. E não é que ela fingiu não me ouvir? Saiu toda apressada. Mas depois eu entendi. Queria me fazer uma surpresa! Mandou bordar meu nome na blusa, pra me mostrar depois. Só não vestiu porque preferia lavar antes. Toda organizada, a Rosa...

A Rosa não é do tipo materialista, que dá prejuízo. Não é. Disso eu sei porque, uma vez, notei que sumiu dinheiro da carteira. Coisa de "entos" reais. Imagine você a minha aflição: dentro de casa somos só nós dois. Seria possível, meu Deus? Eu pensei. Fui falar com ela. Mas fui falar com o coração na mão. "Rosa, preciso falar com você uma coisa. Antes eu quero que saiba, não há porque mentir para mim. E, também, eu estou aqui para o que você precisar. Qualquer coisa mesmo, tristeza, doença, dinheiro...". E antes que eu terminasse, ela: "Meu amor, queria mesmo te falar, peguei uns trocadinhos na sua carteira pra comprar umas verdurinhas na quitanda, pra fazer aquele feijãozinho que você tanto gosta." Tive vontade de perguntar se teve troco, mas ela falando daquela maneira eu esqueci até que tinha uma fonte de renda. É uma graça, a Rosinha.

(continua, ou não)

Lua

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Rosa

Faz 13 anos que me casei com Rosa, e ela sempre foi assim mesmo. Foi por isso que me casei com ela. Não tem essa história de que no começo é tudo um mar de rosas. A verdade é que vivo num mar de rosas há 13 anos. Quero dizer, mar de Rosa, sem o plural da expressão. Até porque, rosa mesmo, só uma.

É certo que deixei uns projetos por causa dela. Mas eram projetos de casa, de trabalho, de amigos. Nada demais. E também, não é, qual é a relação que não tem isso de abandonar uns projetos? Pois é, nenhuma. E se você a conhecesse, também deixaria uns projetos de lado, e entenderia o que estou dizendo. Feito a Rosa não existe. Mulher bonita de verdade, sincera, cozinha que é uma coisa. E sem falar no bom humor matinal, na gentileza e na simpatia, na bondade...

A Rosa é até brincalhona! Tem cada piada boa, meu Deus. Dia desses trocou meu nome. Me chamou de Alberto, olha só. Não deu tempo nem para a estranheza, desatei-me a rir. Alberto é o personagem da novela que ela gosta. Sabe o Alberto, marido da Irene, da novela? Bom, eu não sei por que meu negócio mesmo é futebol, mas ela garantiu. E parece que a novela é boa mesmo.

A Rosa dá plantão à noite. Eu até insisti, disse que não havia necessidade, que ela podia ficar cuidando só da casa, que o que eu ganho dá muito bem pra o sustento. Mas ela não quis. Ficou até um pouco chateada. Disse que queria sim ajudar nas contas: “onde já se viu, ficar em casa, cuidando só da casa?”. Falou com uma graça! Eu deixei.

Agora, escola de samba é assunto sério, não é verdade? Eu sempre fui da Portela. E a Rosa também. A casa, eu fiz questão de comprar bem perto da sede. Pena é que, como a Rosa é plantonista, é difícil pra ela dar uma passada lá. Ainda bem, ela não faz questão que eu fique em casa. Mas uma vez eu fiquei pra dar aquele agrado à patroa. Não é que peguei-la saindo de verde e rosa? Ah, Rosa atrapalhada, trocou as cores da Portela! Eu quase penso besteira! Mas é tanta coisa na cabecinha dela...

(continua)

lua

terça-feira, 5 de abril de 2011

o homem e seu filho

lua

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Trocando em Miúdos

O número chamado encontra-se desligado ou fora da área de cobertura, deixe sua mensagem após o toque. (toque)

Eu vou lhe deixar. A propósito, a medida do bonfim não me valeu. Mas fico com o disco que gosto, o do pixinguinha. (...) Sim. O resto é seu, não me importo. Tchau.

Deu tchau, mas não desligou ainda. As orações desse seu primeiro período quiseram levar na esportiva a situação, uma reação comum aos seres. Respirou fundo e agora sim nada de esportiva. Agora falaria com o sentimento original do seu corpo, cheia de náusea e formigamento. Por dentro, trocava-se em miúdos.

Pode guardar as sobras daquilo que chamávamos de lar. Guarda tudo que fomos nós. Pode guardar até naquela gaveta do meio, cheia de nós de meias, pra o "nós" não ficar tão sozinho. (e sorriu)

[Se você leu o trecho acima e achou tosco, é porque foi de fato. Lembre-se de que não foi escrito e depois dito. Foi dito e depois escrito. Eu não tenho culpa. Zelo para que tudo possa ser muito bem entendido.]

E sorriu. Voltava a brincar como tinha começado. Depois pediu para guardar as melhores lembranças, que não iria lhe custar nada, que o que foi bom tinha mais é que ficar guardado mesmo. Mais piegas impossível. Entretanto, respirou novamente. Agora teve receio de que aquela maneira como falava deixasse a entender que fazia algo sem pensar muito bem, que estava beirando o arrependimento. E não estava. Então decidiu falar a verdade como ela era; um discurso totalmente diferente. Se isso fosse uma música até a melodia oscilaria.

Olha, aquela esperança de tudo se ajeitar, pode esquecer. Até a aliança mesmo, você não precisa guardar. Sei lá, faz outra coisa com ela. Já sei, derrete e faz um broche! Ou então empenha e compra alguma coisa. Não vai dar pra comprar um carro, mas vai ajudar nas contas do mês. Bom, agora vou indo mesmo, de vez. Tchau.

Preciso ser um pouco prolixa para que entendam o que se deu, coisas que um parágrafo não explica. Antes de dizer que ia mesmo, de vez, bateu aquela angústia que precede o choro. Dessa maneira, era melhor desligar. Lembrou-se do porquê disso tudo, e achou melhor desligar. Desligou antes que dissesse umas poucas e boas, que não lhe daria o prazer de vê-la chorar, que, apesar de todo o estrago feito, não iria lhe cobrar absolutamente nada, pois não era do seu feitio, ela era boa demais pra isso. Mas desligou antes de dizer ao telefone. Sobrou pra empregada, a Maria.

Estou errada, Maria? Aliás, ele que aceite uns trocados da dita cuja, pro aluguel. Idiota. Maria, pega aquela mala que vou viajar. Pensa que eu vou ficar aqui choramingando? Ah, não. Aproveita e pega pra mim, Maria, aquele livro que deixei na mesinha de cabeceira, que eu vou levar. Não vou desocupar minha cabeça por um segundo, pra não pensar besteira. Não mesmo. Também não vou levar mais muita coisa. Só umas roupas e a carteira de identidade. Como assim, o livro não está lá?

É claro que o livro não estava lá. Ela o tinha emprestado há séculos, mas ele nunca tinha lido. Não sei como esqueceu. Um Neruda daquele não se esquece. Um verdadeiro achado. Quando se deu conta pensou em deixar outro recado dizendo da sua falta de cultura. Mas achou melhor não fazer alarde. Só bateu o portão e despediu-se de Maria.

Tchau, Maria.

A Maria, que agora ia entrar pra ver se pegava ainda o finalzinho do seu programa de televisão favorito, interrompido anteriormente, respondeu "Tchau D. ...". E depois, bem baixinho, "já vai tarde".


lua

quinta-feira, 24 de março de 2011

Aqui está
camisa, sapato e coração.
Com o meu pode ficar.
Fica o recado na geladeira e o lugar no sofá.
Devolve aquelas besteiras que eu disse
O livro da Clarice eu vou deixar.
Deixa eu ficar com alguns abraços,
apertados ou não.
Coração já disse que pode ficar.
Vou precisar do casaco,
me falaram de uma frente fria.
Te deixo os dias ensolarados
e outros dias de passear.
Negociemos os feriados?
Ou não, pode ficar.
Deixo uns motivos,
umas músicas do Chico
e vou te deixar.
Mas qualquer coisa fico.

lua

terça-feira, 22 de março de 2011

você pode voltar, se for o caso
pode deixar, se for a hora
se for embora, pode ir

pode ficar por lá, caso se acomode
se quiser ficar por aqui, pode

caso fique, pode sentar
pode deitar, caso durma
tem café, caso amanheça
pão e manteiga, se quiser
caso não queira, vou saber

vou tirar a mesa, nesse caso
e vou entender, caso vá

pode ir e voltar, caso queira
as chaves estão no mesmo lugar.

lua

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Joana Francesa

Não esperava que não voltasse com aquelas embarcações. Seria como tantas outras que ali abarcaram. Luxuosas embarcações. Mulheres belíssimas. Não; aqui, sendo daqui mesmo, não haveria tão belas mulheres. Cabelos ruivos por aqui, tendo aqui nascido, não seriam. E a pele tão branca que dava um nó na vista (e na garganta). Dava dó de tocar. Ah, mas tocava sim. Tocava porque depois, sabia, no outro dia, lá se ia a embarcação. Ah, Joana, você não devia ter ficado. Ficou no outro dia e foi ficando. De teimosa que é. Eu já disse que às vezes o mar não tá tão generoso. A gente joga a rede e nada. Volta a rede do jeito que foi jogada. Aí, não tem café nem almoço. É brioche que você fala? Também não tem. Onde é que eu vou te comprar uma roupa dessas? Uma medalha com corrente sem ser de concha e semente? Não tem conversa. E a que tem, ela não escuta. Nem sei se quando eu falo ela entende. Às vezes fica me olhando do nada, pros meus olhos, pros meus braços, e vem se chegando toda atrapalhada, e eu morto de cansaço. Que cansaço que nada! Quando ela vem assim eu nem penso. Às vezes eu chego em casa e ela toda enxarcada. Tava tomando banho de mar. Tira essa roupa, Joana! Toda molhada. Faz medo uma pneumonia. Imagina ela gripada. Tão frágil. Tão fragilzinha. E ela tira. A roupa de cima e a outra roupa. E a outra e a outra. Dessas roupas complicadas. Eu não me aguento. Ah, Joaninha, você não devia ter ficado. Agora tá de casa pra dentro. Tá até no meu barco. Fui eu que pintei, assim, de lado, "Joana Francesa". Pr'eu ter coragem de ir, motivo de voltar. Uma proeza que fiz pra ela morrer de chorar. Eu não entendi, mas disse que tava feliz. E agora deu pra me ensinar uns nomes estranhos. Mademoiselle, bon jour, fenetre. Eu me enrolo todo. Ela fica agoniada. Dia desses quase morre do coração (e me mata). Onde já se viu sair pra pescar com o sol na cara? Tem que ser de madrugada. Ela acordou e eu não tava. Saiu correndo na beira da praia. Rasgou o vestido, assanhou os cabelos. Quando eu cheguei tava sentada. Cada olho vermelho... Aí, disse tudo quanto era nome esquisito. Mas não entendo nada mesmo. Ficou por aquilo. Quando entrou me deu um beijo. Ela tem uma mania de querer dançar no meio da sala (foi assim também nesse dia). Não tenho nem pra onde corrrer. A casa é dum tamanho de nada. Ah, Joana, Joaninha, nem lembro como eu vivia antes de você. E de uns tempos pra cá, não é que aprendeu as horas de me levantar? Perdi o sossego. "Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda,acorda..."

Lua